7 motivos para assistir a novela Velho Chico no Globo Play

Velho Chico encarou atritos, tragédia e polêmicas em 2016, mas reúne motivos de sobra para ser revisitada
Velho Chico encarou atritos, tragédia e polêmicas em 2016, mas reúne motivos de sobra para ser revisitada
Marcos Henderson
Por Marcos Henderson

O diretor e cineasta Luiz Fernando Carvalho tem um histórico emblemático na TV Globo, e apesar de apresentar títulos históricos no currículo, também coleciona polêmicas e atritos com os magnatas da emissora, sobretudo depois de suas mais recentes produções, "Meu Pedacinho de Chão" e "Velho Chico", que apresentaram ao público conceitos e ideias muito diferentes das práticas convencionais que, querendo ou não, são eficientes na televisão. 

Em Velho Chico, o diretor já deu início aos trabalhos com problemas midiáticos relacionados ao idealizador da trama, Benedito Ruy Barbosa, que, na época, foi afastado da Globo após declarações consideradas homofóbicas. Problemas de audiência também motivaram intervenções da cúpula criativa do canal na direção de Carvalho, que desde o início do período de divulgação do folhetim já mostrava que queria apresentar uma obra recheada de poesias visuais e declarações de amor ao nordeste. E, de fato, ele cumpriu, mas nem todos entenderam a proposta de imediato.

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Com uma estética sempre impecável, o início de Velho Chico já impressiona com a performance musical icônica da dupla Maciel Melo e Xangai, traduzindo de imediato o clima que percorre a novela durante toda sua trajetória repleta de tensão e romance. A pergunta que fica para muitos que ainda não tiveram a oportunidade ou não deram todas as chances possíveis à polêmica obra, é: "vale a pena assistir?".

A seguir, listamos 7 ótimos motivos para assistir a novela Velho Chico no GloboPlay

  • Direção
O diretor Luiz Fernando Carvalho deu atenção a detalhes cruciais para o ritmo da novela
O diretor Luiz Fernando Carvalho deu atenção a detalhes cruciais para o ritmo da novela
O diretor Luiz Fernando Carvalho deu atenção a detalhes cruciais para o ritmo da novela

O diretor Luiz Fernando Carvalho insere seu toque a cada passagem de Velho Chico, e muitos não sabem que o cineasta precisou correr contra o tempo para garantir um bom resultado na estreia. Acostumado a trabalhar em um ritmo próprio, Carvalho teve de dois a três meses para organizar e executar o trabalho que, segundo ele, foi um "milagre".

O cineasta não poupou esforços nos detalhes da trama, exibindo cada pingo de suor dos personagens em meio ao sertão nordestino e aproveitando cada luminosidade para destacar os detalhes e a beleza do Rio São Francisco, além das expressões faciais de moradores nativos da região, que também aparecem costumeiramente na integração de cenas da primeira fase. Carvalho também apresentou uma clara inspiração no Spaghetti Western para simular os embates de faroeste entre as figuras heroicas e antagonistas da trama, impondo a cinematografia artística como fator primordial em sua direção.  

  • Fotografia
O diretor de fotografia Alexandre Frutuoso utilizou refletores de filamento nas gravações
O diretor de fotografia Alexandre Frutuoso utilizou refletores de filamento nas gravações
O diretor de fotografia Alexandre Frutuoso utilizou refletores de filamento nas gravações

Assinada por Alexandre Frutuoso, a direção de fotografia de Velho Chico é, sem dúvidas, um dos resultados visuais mais impressionantes já exibidos pela TV Globo até então. A utilização de refletores de filamento, por exemplo, foi adotada como forma de preservar a "dureza" das luzes na composição das cenas, o que manteria um aspecto mais natural nas texturas, sempre capazes de repassar aos telespectadores a profundidade de sentimentos presente em cada ação dos personagens. Como resultado da junção entre a incrível fotografia de Frutuoso e a busca pela riqueza de detalhes de Carvalho, obtêm-se o que se chama de "visual de cinema", um dos aspectos mais marcantes da telenovela de 2016.

  • Enredo
Enredo é um dos destaques positivos em Velho Chico
Enredo é um dos destaques positivos em Velho Chico
Enredo é um dos destaques positivos em Velho Chico

De nada adiantaria uma incontestável riqueza de detalhes visuais se a trama não apresentasse um enredo convincente. Em Velho Chico, entretanto, a história é um dos destaques positivos. A novela é dividida em fases. Na primeira, é apresentada a rivalidade entre o coronel Jacinto (Tarcísio Meira), que comanda praticamente toda a região, e o capitão Rosa (Rodrigo Lombardi), com embates recheados de tensão e suspense até mesmo nas ocasiões mais corriqueiras, como um encontro inesperado em um bar, logo no início do primeiro capítulo, em que Carvalho abusa do contra-plongée para destacar as posições "respeitosas" dos dois rivais.

O filho de Jacinto, Afrânio de Sá Ribeiro (Rodrigo Santoro), assume os negócios após a morte do pai e abandona a amada Iolanda (Carol Castro). Ele, então, acaba se envolvendo com Leonor (Marina Nery), e se casa com a jovem, que dá à luz Maria Tereza (Isabella Aguiar / Julia Dalavia). Mais tarde, na passagem de tempo da novela, Afrânio é interpretado por Antônio Fagundes, e Camila Pitanga assume o papel de Maria Tereza, que manterá uma paixão envolvente por Santo, inicialmente interpretado por Rogerinho Costa e Renato Goes e posteriormente vivido por Domingos Montagner.

  • Elenco
Fases distintas criaram dinâmica de evolução aos personagens graças às belíssimas atuações
Fases distintas criaram dinâmica de evolução aos personagens graças às belíssimas atuações
Fases distintas criaram dinâmica de evolução aos personagens graças às belíssimas atuações

O elenco de estrelas que compõe Velho Chico é um dos principais e mais fáceis destaques de se apontar nesta lista. Como mostrado no tópico anterior, as diferentes fases trazem à trama uma dinâmica interessante para o desenvolvimento dos personagens, e também mostra que um dos grandes triunfos da obra é a qualidade dos diálogos e das atuações isoladas de cada personagem, a começar pela brilhante disputa entre Afrânio e Rosa, inicialmente comandada por Tarcísio Meira e Rodrigo Lombardi.

A versão jovem dos protagonistas também ajuda a criar uma lógica para o destino enfrentado por cada um deles, como pode ser acompanhado no misterioso Cícero, interpretado por Lucca Fontoura, Pablo Morais e Marcos Palmeira. Sem dúvidas, Domingos Montagner foi um dos grandes nomes em Velho Chico, e sua morte precoce provocou um luto generalizado no país.

O ator que deu vida a Santo gravou cenas da novela pouco antes de mergulhar no rio São Francisco para tomar banho, e o trágico afogamento ecoou de forma amarga no folhetim até o desfecho, que contou com homenagens emocionantes ao ator. Apesar da dualidade de sentimentos com o clima de luto, a novela também funciona, hoje, como um memorial de excelentes atuações de Montagner, que se despediu com um trabalho impecável e, com toda a certeza, histórico. 

  • Romance
O amor guia até o mais truculento dos personagens em Velho Chico
O amor guia até o mais truculento dos personagens em Velho Chico
O amor guia até o mais truculento dos personagens em Velho Chico

O que seria de uma novela sem romance? Em Velho Chico, as lutas dos protagonistas e antagonistas, por mais sociais e gerais que possam parecer, sofrem influência direta das paixões e amores dos personagens. A vilania de Afrânio, por exemplo, é quebrada nos momentos em que o Saruê fica diante de seu eterno amor, a sempre carismática Iolanda, que na virada de fase é interpretada por Christiane Torloni. O filho de Maria Tereza, Miguel, também nutre um amor incontrolável por Olívia (Giullia Buscacio), e é claro que não poderíamos deixar de destacar o incrível romance entre Maria Tereza e Santo, que conduz boa parte da trama até o fim. 

  • Trilha Sonora
Trilha sonora evidencia brasilidade de Velho Chico
Trilha sonora evidencia brasilidade de Velho Chico
Trilha sonora evidencia brasilidade de Velho Chico

Além dos aspectos visuais, Velho Chico ritmiza os acontecimentos através de uma trilha sonora recheada de brasilidade fundidos com o clima orquestral e a junção com a variedade de sons da mata e brasilidades presentes na temática principal da novela. Para o diretor, a escolha das músicas que integram o CD oficial da trilha sonora foi feita com total lógica à evolução dos personagens, com "vários compositores, vários tempos, um Brasil que se faz mais e mais potente quando se escuta em sua diversidade", disse à época em que anunciou a coletânea.

"Recolhi estas canções como um pajé recolhe e escolhe suas folhas para, depois, extrair delas um caldo do país; ou como quem colhe uma série de sonhos plantados na memória: coloridos, necessários, de amor e resistência", explicou o cineasta. Músicas como "Tropicália", interpretada por Caetano Veloso, "A Olhos Nus", de Ná Ozzetti e Zé Miguel Wisnik, e Barcarola do São Francisco, de Geraldo Azevado, ilustram com perfeição as influências típicas brasileiras na composição geral da novela. Ouça a trilha sonora de Velho Chico:

  • Reflexão e Poesia
Novela reflete sobre desigualdade e cria diálogos poéticos com o Rio São Francisco
Novela reflete sobre desigualdade e cria diálogos poéticos com o Rio São Francisco
Novela reflete sobre desigualdade e cria diálogos poéticos com o Rio São Francisco

Por fim, não poderíamos deixar de destacar o potencial reflexivo nos capítulos de Velho Chico, que desde o início apresenta como principal foco a valorização brasileira, sobretudo no que diz respeito à região nordestina, apresentada sob uma constante poesia, por vezes calma até demais, e em outras ocasiões mais tensa que um filme de suspense. Luiz Fernando Carvalho enfrentou, sim, problemas de percurso, mas o resultado final de Velho Chico é uma obra que poderia, facilmente, ecoar por gerações, se não fossem as polêmicas, a infeliz tragédia e os demais obstáculos que apareceram no meio do caminho.

O Rio São Francisco, portanto, pode ser chamado de protagonista da trama. É graças a estas águas que os personagens criam suas principais motivações e geram, também, suas maiores angústias em relação à própria sobrevivência. Talvez ousada demais para a faixa das 21h na TV Globo, Velho Chico esbarrou em bloqueios compreensíveis dos telespectadores que já estavam acostumados com um ritmo padronizado, mas, com a novela disponível no GloboPlay, uma segunda chance é totalmente válida. 

Sobre o autor

Marcos Henderson
Marcos HendersonPublicitário, músico e, aqui, escrevo sobre o que as diferentes culturas têm a nos dizer. Como artista, celebro a força da arte e conto histórias do entretenimento. Twitter: @marhoscenderson
Fale com o autor: [email protected]
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