Nova 'Pantanal' é a maior novela da Globo desde 'Velho Chico'
As duas novelas são conectadas a Benedito Ruy Barbosa e fornecem tramas épicas aos espectadores
A nova versão da novela "Pantanal" está programada para estrear no final de março na Globo e já encantou os espectadores após a divulgação do trailer de anúncio nesta semana, mostrando que o autor Bruno Luperi está determinado a manter as características criativas de seu avô, Benedito Ruy Barbosa, criador da versão original e responsável por outras grandes novelas, como a polêmica "Velho Chico", o último grande projeto que foi ao ar na faixa nobre da emissora carioca.
"Pantanal" e "Velho Chico" têm laços criativos comuns em suas construções, desde as temáticas circuladas ao redor de histórias locais brasileiras à valorização das paisagens naturais oferecidas pelo país e de figuras místicas. A nova "Pantanal" inicia sua jornada contando a história de José Leôncio (Renato Góes), um peão que, junto ao pai Joventino, comprou uma fazenda para criar gado de corte, dando início a um projeto familiar de caça aos bois selvagens da região, os marruás, que aumentam a ganância da dupla a ponto de fazer com que Joventino se perca caçando os animais.
Determinado a continuar caçando os marruás até encontrar seu pai, José fica muito rico e decide viajar ao Rio de Janeiro sob o pretexto de cobrar uma dívida, não demorando muito para conhecer Madeleine (Bruna Linzmeyer), uma garota mimada que encanta o seu coração e também se apaixona pelo fazendeiro. Os dois se casam e passam a morar juntos no Pantanal, mas não demora muito para ela se incomodar com o estilo de vida do parceiro, criando uma revolta repentina que a faz abandona-lo com o filho recém-nascido, Jove, no colo.
Recheado de amargura e cada vez mais destinado a um perfil controlador, José Leôncio cresce e ganha a interpretação de Marcos Palmeira (que também estava em Velho Chico). A segunda fase de "Pantanal" apresenta sua personagem mais icônica, Juma Marruá, uma jovem selvagem que assistiu ao assassinato da própria mãe, Maria Marruá (Juliana Paes), por causa de uma briga por terras.
Em Velho Chico, a história estava concentrada na cidade fictícia de Grotas do São Francisco e era contada em três fases, começando na virada da década de 1960 para 1970 com a morte de coronel Jacinto (Tarcísio Meira), um grande fazendeiro que comanda a cidade e revende algodão de pequenos produtores. Ele era constantemente enfrentado pelo capitão Rosa (Rodrigo Lombardi), que tinha uma visão completamente diferente do coronel, pois acreditava que os pequenos produtores deveriam ter independência sobre a própria mercadoria.
A história ganha corpo com o herdeiro de Jacinto e Encarnação (Selma Egrei), Afrânio, interpretado por Rodrigo Santoro e Antonio Fagundes nas duas fases seguintes. Afrânio se tornou o típico filho de família rica que se muda para a cidade grande com o intuito de se dedicar aos estudos mas dedica boa parte do tempo à boemia, apaixonando-se por Iolanda (Carol Castro/Christiane Torloni).
Após a morte do pai, o personagem de Santoro acaba voltando para a fazenda e assume os negócios, evoluindo seu perfil egocêntrico até se tornar um coronel inescrupuloso. Daí, surge mais um romance problemático, desta vez entre Afrânio e Leonor (Marina Nery), que acaba morrendo durante o parto de Maria Tereza, interpretada por Julia Dalavia (também presente em Pantanal) na segunda fase do folhetim.
Aqui, fizemos pequenos apunhados das tramas das duas novelas, mas dá para perceber que há semelhanças na lógica criativa de ambos os títulos, sobretudo pela complexidade das relações e dos significados por trás de cada núcleo narrativo. Benedito Ruy Barbosa é conhecido pela dedicação às histórias envolventes e, à sua forma, relevantes, motivo pelo qual o autor também acabou se envolvendo em polêmicas claramente relacionadas à sua interpretação pessoal do próprio trabalho, a exemplo de quando fez uma declaração considerada homofóbica sobre outras novelas, praticamente afirmando que suas obras eram superiores.
Apesar de grandiosa, Velho Chico colecionou polêmicas que iam além das afirmações infelizes de Benedito Ruy Barbosa, afastado rapidamente da novela na época. Domingos Montagner, que interpretava o par romântico de Maria Tereza, Santo dos Anjos, morreu afogado após gravar cenas para a novela, ficando preso a 18 metros de profundidade, perto da Usina de Xingó, na Região de Canindé de São Francisco, gerando comoção nacional e mais reações mistas à novela, que também colecionava críticas de parte dos espectadores por aspectos banais, como o suor e a sujeira de seus personagens, e o ritmo lento de narração dos fatos.
Pantanal obteve uma repercussão muito mais positiva e imediata do público, sendo considerada uma das melhores novelas de todos os tempos na TV Globo, além de já ter gerado embates interessantes, como o período em que o SBT adquiriu os direitos do folhetim, exibindo os capítulos a partir de 2008 e gerando novas polêmicas em torno de Ruy Barbosa, que processou a emissora por danos morais, alegando que os novos cortes de diálogos provocados por danos nas fitas originais manchariam sua reputação como autor.
Apesar das polêmicas do autor original, uma coisa é certa: Bruno Luperi está determinado a transformar a nova versão de "Pantanal" em um marco histórico para a TV Globo, que está há alguns anos perdendo audiência com suas novelas, principalmente em meio às reprises exibidas durante a pandemia e, agora, com as histórias que não estão convencendo o público. É claro que estamos falando de um remake, portanto, já podemos descartar comentários como "a maior criação dos últimos anos" ou outros exageros semelhantes, mas não há dúvidas de que assistir à evolução de José Leôncio, Juma Marruá e Jove com os recursos técnicos disponíveis na Globo atualmente será, no mínimo, arrepiante.