Novo Robocop de Padilha abdica da violência e é politizado

Novo Robocop de Padilha abdica da violência e é politizado
Diário 24 Horas
Por Diário 24 Horas

Remake do clássico "Robocop", que estreia na próxima sexta-feira (21), tem direção do brasileiro José Padilha, e é protagonizado por Gary Oldman.

Refazer um filme tão clássico e conhecido da infância, e porque não da fase já adulta de alguns, seria uma árdua tarefa quando se trata de um já conceituado padrão de tal. Imagine então um remake de filme de 1987 em que humor negro e cenas explícitas de violência com muito sangue e impacto faziam parte do atrativo que o tornava bem construído e crítico.  

"RoboCop" foi um filme de sucesso e com esses elementos, e ganha um remake dirigido pelo brasileiro José Padilha ("Tropa de elite") um pouco mais cauteloso nas cenas de violência e críticas, e tem estreia no Brasil datada para o dia 21 deste mês de Fevereiro. O  robô policial está bem diferente daquele popularizado na década de 1980. Sai a máquina com lapsos (sinceros) de humanidade, mesmo que em um cenário satírico e "demodé", e entra um oficial consciente do seu aspecto robótico, mas que parece mais um supersoldado do tipo "Homem de ferro". O resultado é um filme de ação com um ciborgue pouco inspirado, e que insiste em uma crise armamentícia mundial talvez exagerada.

Quando foi lançado em 1987, o "RoboCop" original vislumbrava uma Detroit tomada pelo crime e com sua força policial sucateada. É nessa perspectiva de desespero que surge o robô policial, o alento de uma cidade sitiada. Trazido de volta à vida, Alex Murphy encarna um ciborgue de movimentos rígidos, que chega a ter ares de pastelão, mas que ganha força na cena do seu sonho, quando memórias de sua vida passada são relembradas intensamente.

Já em 2014, Murphy (Joel Kinnaman) não morreu e é integrado a um corpo moderno, com habilidades que o primeiro RoboCop nunca imaginaria ter. Desde o princípio consciente de sua simbiose, porém, o policial não passa de um subterfúgio da megacorporação Omnicorp, um dos aspectos remanescentes da série original, e sofre com a falta de carisma.

A empresa produz robôs militares para o mundo todo com exceção dos Estados Unidos, curiosamente retratados como um país pacífico e regido por uma lei anti-máquinas. CEO da Omnicorp, Raymond Sellars – interpretado por um Michael Keaton assemelhado a Steve Jobs, cofundador da Apple – decide então produzir um robô que tenha a aparência de um ser humano. Surge RoboCop.

Enquanto o robô original não tinha mais nada a perder e apresentava apenas resquícios de sua antiga vida, o RoboCop de 2014 sustenta família, emoções, desejos, medo. Nenhum dos pontos ganha aprofundamento suficiente já que, assim como no primeiro filme, a versão humana de Murphy tem pouco tempo de tela, o que torna vagoroso o ritmo da produção até cerca de uma hora de exibição.

Só quando o Doutor Dennett Norton (Gary Oldman) está prestes a apresentar sua criação ao mundo – logo depois de ele descontruir "ipsis litteris" o corpo de RoboCop, uma das poucas cenas de apelo dramático – é que o filme ganha mais chão.

A humanidade do robô é interrompida bruscamente, e o público consegue tomar ciência das implicações da fusão entre homem e máquina. Kinnaman, que até então vacilava em um RoboCop "artificial" demais, finalmente se vê livre dos clichês de um mocinho injustiçado e se transforma em um aparato de guerra descerebrada, o suprassumo da eficácia. O novo Robocop tem cenas tímidas de derramamento de sangue e  infelizmente perde o refinado humor negro e satírico da versão de Verhoeven, mas traz novos assuntos atualíssimos e até filosóficos. 

Como por exemplo,  se devemos dar a drones o poder de decisão sobre a morte, assim como a natureza do livre-arbítrio e a relação entre o ser humano e a tecnologia era mais ficção científica na época do original e hoje a tecnologia está arraigada em nossas vidas. O novo filme aborda de forma mais visceral e profunda como a tecnologia muda nossa própria forma de pensar e de tomar decisões.

O filme talvez tenha deixado um pouco a desejar pela insistência no tema armamentício e ter abdicado de cenas de ação de impacto.

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