NASA revisa nomes de objetos cósmicos e revolta conservadores 'anti-lacração'

A agência deu os primeiros passos com os apelidos 'nebulosa Esquimó' e 'Galáxia dos Gêmeos Siameses'
A agência deu os primeiros passos com os apelidos 'nebulosa Esquimó' e 'Galáxia dos Gêmeos Siameses'
Marcos Henderson
Por Marcos Henderson

A NASA anunciou na última quarta-feira (5) que daria início a uma revisão completa dos nomes não-oficiais dos objetos cósmicos distantes, como planetas, galáxias e nebulosas, muitas vezes referido pela comunidade científica com apelidos encontrados ao longo do caminho, e nenhum registro evidente das denominações. De acordo com o comunicado, "tornou-se claro que certos apelidos cósmicos não são apenas insensíveis, mas podem ser ativamente prejudiciais".

A novidade chega para integrar o recente compromisso da NASA com a diversidade, a equidade e a inclusão, mas gerou revolta entre o público conservador nas redes sociais, que, mais uma vez, utiliza argumentos agressivos "anti-lacração" para definir a ação como uma espécie de empreitada sem nexo, referindo-se à notícia com ironia e piadas relacionadas às tentativas de diminuição do preconceito ao redor do mundo. 

"E a NASA anunciou que irá revisar nomes de planetas, estrelas e galáxias que eles julgam ser preconceituosos.. Parece que eles querem levar a lacração para outras galáxias e outras dimensões.. Eles não querem irritar os alienígenas.. Compreensível..", disse um internauta que se auto-denomina "conservador patriota", exibindo uma bandeira do Brasil ao lado de sua foto de perfil.

O cofundador do Movimento Brasil Conservador, Henrique Oliveira, também entrou na onda de revolta contra a agência, compartilhando uma matéria publicada pelo G1:

"Quem é a NASA para mudar nomes de planetas, estrelas e galaxias? Além disso vão mudar o quê? Vão chamar buraco negro de buraco afro -descendente? Plutão de Plutinha? Uranus de Planeta onde o sol não bate? PQP...", reclamou outro usuário, também acompanhado de uma bandeira do Brasil ao lado da foto de perfil, além de uma descrição curiosa: "Jornalista de Twitter. Fã de D. Pedro. Conservador e espirituoso."

O perfil "FamíliaDireitaBrasil" foi além ao afirmar que "a Nasa entrou para a ditadura do revisionismo histórico", e ainda encerrou o post revoltoso no Twitter com "é do ânus cair da bunda". Outra usuária, que escolheu o nome Meg Trump para intitular sua conta, se descreve como "terrivelmente conservadora" e apresenta como solução para os problemas do mundo "dar RESET na humanidade", ironizando a novidade apresentada pela NASA. 

Como passo inicial, a agência não se referirá mais à nebulosa planetária NGC 2392 como "nebulosa Esquimó", já que o termo é amplamente visto como um termo colonial de amplo histórico racista. A NASA também não usará mais o termo “Galáxia dos Gêmeos Siameses” para se referir ao NGC 4567 e NGC 4568, um par de galáxias espirais encontradas no Cluster Virgo Galaxy. No futuro, a NASA usará apenas as designações oficiais da União Astronômica Internacional nos casos em que apelidos são inapropriados.

NASA deixará de chamar NGC 2392 de 'nebulosa Esquimó'
NASA deixará de chamar NGC 2392 de 'nebulosa Esquimó'
NASA deixará de chamar NGC 2392 de 'nebulosa Esquimó'

"Apoio a nossa reavaliação contínua dos nomes pelos quais nos referimos a objetos astronômicos", disse Thomas Zurbuchen, administrador associado da Diretoria de Missões Científicas da NASA na sede em Washington. "Nosso objetivo é que todos os nomes estejam alinhados com nossos valores de diversidade e inclusão, e trabalharemos proativamente com a comunidade científica para ajudar a garantir isso. A ciência é para todos, e todas as facetas do nosso trabalho precisam refletir esse valor”, concluiu. 

Os apelidos costumam ser mais acessíveis ao público do que os nomes oficiais. Exatamente por isso, modifica-los para termos mais distantes de heranças preconceituosas facilita o desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais estudada sobre a importância dos entendimentos sobre a formação da sociedade, basicamente dominada pelo racismo ao longo de séculos. Apelidos aparentemente inócuos também podem ser essencialmente prejudiciais ao campo científico, que a cada ano tem a óbvia obrigação de se tornar mais inclusivo. 

Sobre o autor

Marcos Henderson
Marcos HendersonPublicitário, músico e, aqui, escrevo sobre o que as diferentes culturas têm a nos dizer. Como artista, celebro a força da arte e conto histórias do entretenimento. Twitter: @marhoscenderson
Fale com o autor: [email protected]
Conheça nossa redação. Ver equipe.

Escolha do editor

Comentários

O que você achou?
Compartilhe com seus amigos: