NASA revisa nomes de objetos cósmicos e revolta conservadores 'anti-lacração'
A NASA anunciou na última quarta-feira (5) que daria início a uma revisão completa dos nomes não-oficiais dos objetos cósmicos distantes, como planetas, galáxias e nebulosas, muitas vezes referido pela comunidade científica com apelidos encontrados ao longo do caminho, e nenhum registro evidente das denominações. De acordo com o comunicado, "tornou-se claro que certos apelidos cósmicos não são apenas insensíveis, mas podem ser ativamente prejudiciais".
A novidade chega para integrar o recente compromisso da NASA com a diversidade, a equidade e a inclusão, mas gerou revolta entre o público conservador nas redes sociais, que, mais uma vez, utiliza argumentos agressivos "anti-lacração" para definir a ação como uma espécie de empreitada sem nexo, referindo-se à notícia com ironia e piadas relacionadas às tentativas de diminuição do preconceito ao redor do mundo.
"E a NASA anunciou que irá revisar nomes de planetas, estrelas e galáxias que eles julgam ser preconceituosos.. Parece que eles querem levar a lacração para outras galáxias e outras dimensões.. Eles não querem irritar os alienígenas.. Compreensível..", disse um internauta que se auto-denomina "conservador patriota", exibindo uma bandeira do Brasil ao lado de sua foto de perfil.
O cofundador do Movimento Brasil Conservador, Henrique Oliveira, também entrou na onda de revolta contra a agência, compartilhando uma matéria publicada pelo G1:
NASA vai "revisar nomes de planetas, estrelas e galáxias que podem ser preconceituosos".Numa boa?Vão pro inferno 👍🏻 https://t.co/AZqtcfdqaz
— Henrique (@henriolliveira) August 6, 2020
"Quem é a NASA para mudar nomes de planetas, estrelas e galaxias? Além disso vão mudar o quê? Vão chamar buraco negro de buraco afro -descendente? Plutão de Plutinha? Uranus de Planeta onde o sol não bate? PQP...", reclamou outro usuário, também acompanhado de uma bandeira do Brasil ao lado da foto de perfil, além de uma descrição curiosa: "Jornalista de Twitter. Fã de D. Pedro. Conservador e espirituoso."
O perfil "FamíliaDireitaBrasil" foi além ao afirmar que "a Nasa entrou para a ditadura do revisionismo histórico", e ainda encerrou o post revoltoso no Twitter com "é do ânus cair da bunda". Outra usuária, que escolheu o nome Meg Trump para intitular sua conta, se descreve como "terrivelmente conservadora" e apresenta como solução para os problemas do mundo "dar RESET na humanidade", ironizando a novidade apresentada pela NASA.
Como passo inicial, a agência não se referirá mais à nebulosa planetária NGC 2392 como "nebulosa Esquimó", já que o termo é amplamente visto como um termo colonial de amplo histórico racista. A NASA também não usará mais o termo “Galáxia dos Gêmeos Siameses” para se referir ao NGC 4567 e NGC 4568, um par de galáxias espirais encontradas no Cluster Virgo Galaxy. No futuro, a NASA usará apenas as designações oficiais da União Astronômica Internacional nos casos em que apelidos são inapropriados.
"Apoio a nossa reavaliação contínua dos nomes pelos quais nos referimos a objetos astronômicos", disse Thomas Zurbuchen, administrador associado da Diretoria de Missões Científicas da NASA na sede em Washington. "Nosso objetivo é que todos os nomes estejam alinhados com nossos valores de diversidade e inclusão, e trabalharemos proativamente com a comunidade científica para ajudar a garantir isso. A ciência é para todos, e todas as facetas do nosso trabalho precisam refletir esse valor”, concluiu.
Os apelidos costumam ser mais acessíveis ao público do que os nomes oficiais. Exatamente por isso, modifica-los para termos mais distantes de heranças preconceituosas facilita o desenvolvimento de uma sociedade cada vez mais estudada sobre a importância dos entendimentos sobre a formação da sociedade, basicamente dominada pelo racismo ao longo de séculos. Apelidos aparentemente inócuos também podem ser essencialmente prejudiciais ao campo científico, que a cada ano tem a óbvia obrigação de se tornar mais inclusivo.