Devido a pandemia, orquestra boliviana fica presa em castelo alemão "assombrado" por Frederico, o Grande

De acordo com a BBC, área circundante ao local também abriga '23 bandos de lobos'.
De acordo com a BBC, área circundante ao local também abriga '23 bandos de lobos'.
Carol Souza
Por Carol Souza

Desde 10 de março, devido à pandemia mundial do novo coronavírus, uma orquestra boliviana está presa no palácio alemão de Rheinsberg. Segundo a BBC, o palácio medieval é um castelo cercado por "23 bandos de lobos", que é considerado assombrado por Frederico, o Grande.

No início de março, a Orquestra Experimental de Instrumentos Nativos voou para a Alemanha para realizar três shows e ver alguns pontos turísticos, com a viagem total prevista para durar pouco mais de duas semanas. Muitos dos jovens membros do grupo nunca haviam saído da Bolívia antes. Mas quando o avião pousou, a orquestra soube que a região alemã de Berlim havia anunciado proibições a grandes reuniões de pessoas.

Um membro, identificado como Carlos, lembrou um presságio ameaçador. "Nosso ônibus quebrou na estrada. Lembro-me de brincar que isso era azar e talvez nossos shows fossem cancelados", disse ele, "mas nunca pensei que isso realmente pudesse acontecer".

O grupo se esforçou para encontrar uma forma de voltar casa antes que a Bolívia anunciasse o fechamento de suas fronteiras, porém não obteve sucesso. E como a Alemanha também entrou em lockdown, a Orquestra ficou presa em um albergue na propriedade de Rheinsberg Schloss, a cerca de 90 minutos de carro de Berlim. Até o momento em que este artigo foi escrito, eles seguem presos por 76 dias.

O castelo foi construído pela primeira vez na década de 1560 e abrigou várias linhas aristocráticas até 1734, quando foi comprado pelo rei prussiano Frederico Guilherme I. Ele, por sua vez, o presenteou a seu filho, príncipe herdeiro Frederico II, mais tarde Frederico, o Grande . Esse Frederico, em particular, passou quatro anos no castelo antes de assumir o trono. Durante esse período, ele deu festas luxuosas com apresentações de alguns dos músicos mais famosos da época, entre eles J.C. Bach, filho de Johann Sebastian Bach, e um respeitado compositor.

Frederico, o Grande, talvez sem surpresa, aproveitou esse período de folia e música mais do que seus deveres como líder mundial. Ele chamou a época em Rheinsberg de "anos mais felizes", razão pela qual seu fantasma tem a fama de assombrar a propriedade.

De acordo com Camed Martela, 20 anos, membro da Orquestra, o espírito de Frederico tem sido um tópico de conversa entre os músicos. "Todos brincamos que o fantasma de Frederico está nos seguindo e tentando nos enganar. Normalmente não acredito nessas coisas, mas parece que há fantasmas no local".

Felizmente, os fantasmas são todos fãs de música. E embora as muitas, muitas matilhas de lobos possam parecer assustadoras, os poucos encontros do grupo com os lobos foram mais fofos do que ameaçadores. Tracy Prado, que só entrou na Orquestra em dezembro, viu recentemente três lobos enquanto passeava. "Eu congelei de medo, mas eles estavam apenas brincando de brigar e seguiram em frente", disse ela.

Muito mais assustadora é a resposta dos governos bolivianos à crise do coronavírus. "Covid está ficando muito político em casa", disse Carlos à BBC. O governo boliviano, sob a presidência interina Jeanine Áñez, adiou a eleição presidencial que estava marcada para maio. Posteriormente, eles fizeram um esforço para limitar a liberdade de expressão, especialmente as críticas de como o governo administrou a pandemia. Essa ação acabou fracassando, mas nenhuma nova data para a eleição presidencial foi marcada.

E mesmo que Carlos tenha tentado e passado horas no telefone com a embaixada boliviana, pouco progresso foi feito para levar o grupo para casa. Em uma entrevista recente, a ministra das Relações Exteriores da Bolívia, Karen Longaric, foi questionada diretamente sobre a Orquestra. Ela disse que seu escritório estava focado em levar para casa "os mais vulneráveis ​​- mulheres, crianças, pessoas doentes e idosos", e que a Orquestra era uma prioridade baixa.

Por enquanto, não há nada a fazer senão esperar. "Nos sentimos abandonados", disse Carlos.

Sobre o autor

Carol Souza
Carol SouzaAmante do cinema, dos livros e apaixonadíssima pelo bom e velho rock n'roll. Amo escrever e escrevo sobre o que amo. Ativista da causa feminista e bebedora de café profissional. Instagram: @barbooosa.carol
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