Sleeping Giants traz novos rumos para política e publicidade brasileira
Na semana passada, um novo usuário no Twitter chamou atenção de várias empresas, veículos de comunicação e influenciadores. Chamado de “Sleeping Giants”, a iniciativa começou nos Estados Unidos apontando empresas que tinham publicidades em sites que publicam Fake News.
Com usuários anônimos, eles definem como um grupo que visa combater a desinformação incitando companhias que estão em sites “extremistas ou de Fake News que contenham propaganda de alguma marca REAL”.
Muito se falou, por exemplo, do site Jornal da Cidade Online, que é alvo de uma CPI por divulgação de notícias falsas e que o Banco do Brasil continha propagandas. Após vai e vem do setor de marketing do banco, capitaneado pelo filho do atual vice-presidente, o Banco do Brasil manteve suas propagandas mesmo com o anúncio de boicote por vários influenciadores. Com isso, o Jornal da Cidade Online é um dos principais alvos do “Sleeping Giants”.
O inquérito foi aberto em meio à repercussão causada pela revelação de que a Secom e o Banco do Brasil pagaram por anúncios em sites que divulgam informações falsas ou que são alinhados ao governo Bolsonaro. https://t.co/rIDv0Rca2F
— Sleeping Giants Brasil (@slpng_giants_pt) May 27, 2020
Marcas como Phillips, Pão de Açúcar, Madeira Madeira, Doutor Consulta, Estácio, entre outras, foram contatas pelo Sleeping Giants e seus apoiadores a se manifestarem por terem suas propagandas veiculadas no Jornal da Cidade Online e outros sites considerados extremistas.
A repercussão foi tamanha que o Instagram oficial da conta criou uma lista de empresas que aderiram ao movimento e não irão mais divulgar suas marcas nos sites classificados como de cunho extremista ou de veiculação de notícias falsas.
A reação, claro, foi imediata. Classificado inicialmente como uma manobra da “esquerda” para denegrir o sites e portais considerados de “direita”, com o próprio secretário de Comunicação, Fábio Wajngarten, criticando o perfil, o responsável anônimo pelo perfil disse poderá denunciar sites de esquerda.
Em entrevista à Época, o dono do perfil foi questionado sobre a escolha de “ataque” ao Jornal da Cidade Online, em que em sua resposta disse que levou em consideração três exemplos: a publicação de ataques à políticos, juízes, entre outros, por pessoas que não existiam; a mistura de dados de pesquisa de diferentes institutos para melhorar avaliações; e uma reportagem falsa sobre as eleições na Venezuela.
“Devemos deixar claro que, até o momento, o nosso único alvo é o Jornal da Cidade Online e provavelmente levaremos meses para alcançarmos os resultados pretendidos. Portanto, não discutimos nesse momento a ampliação de nossa atuação para outros veículos. Mas é importante ressaltar que é um movimento que objetiva suprimir o financiamento da desinformação e do discurso de ódio. Eventuais próximos alvos serão definidos a partir de uma análise que observe esses dois critérios”, completou.
Em relação ao lado ruim da veiculação da imagem de empresas privadas com sites que circulam Fake News, o administrador disse: “Especialmente para as empresas que possuem papéis negociados no mercado de ações. A associação é um portal, conhecido por desinformar e produzir conteúdos de ódio, viola a regras básicas de compliance, como a blindagem da marca. Mas esse movimento não diz respeito aos problemas que as fake news geram para as empresas, mas, sim, aos efeitos nocivos da desinformação e do discurso de ódio para a sociedade em geral. As empresas são chamadas ao diálogo por serem atores sociais que, agindo responsavelmente, podem inibir a produção de desinformação em massa a partir da interrupção de seus anúncios nesses veículos”.
Entretanto, do lado de quem gera as publicidades, está o Google, que até o momento não foi “atacado” por nenhum dos lados. Apesar de apenas um meio de divulgação das marcas, através da ferramenta do Google ADS e Google Adsense é possível que sites e marcas gerencie suas preferências por áreas de interesse. Com a preferência por sites isentos ou pouco polêmicos, abre-se a oportunidade de investimento em sites menores (com menos visualizações).
Mas o debate é bastante amplo, já que a vigilância da internet somada aos interesses econômicos deverá ou não encontrar um balanço, levando em consideração o bem maior de levar informação e o jornalismo sério. A política balança com as ações impositivas da internet enquanto a publicidade desbrava novos meios de lucrar sem se comprometer.