Em busca da salvação: Emissoras de TV religiosas oferecem apoio ao governo em troca de verbas
No último dia 21 de maio, uma videoconferência entre o presidente Jair Bolsonaro, sacerdotes, parlamentares e representantes de alguns grupos católicos e laicos de comunicação do país, foi realizada na busca por novas alianças do governo. De conhecimento e transmissão pública, a reunião veio à tona somente agora, por meio de reportagem do Estadão. Na ocasião, os controladores de emissoras de rádio e TV religiosas se interessaram pela troca de recursos públicos por publicidade positiva.
Os meios de comunicação se comprometeram com a divulgação de ações e imagem positiva do governo em meio à pandemia do novo coronavírus, com a contrapartida de anúncios estatais e concessão de expansão de suas redes comunicação. Segundo o colunista do UOL, Ricardo Feltrin: “Emissoras evangélicas como rede Gospel, TV Mundial, Internacional da Graça, Universal, Vitória em Cristo, católicas como Rede Vida e as comerciais menores, como RBTV (Rede Brasil) e Gazeta estão indo a Brasília 'suplicar' por mais verbas federais em suas programações”. A ação dos grupos católicos diverge da atual postura política da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), com tom elevado contra o governo pela atuação constante do presidente contra as recomendações sanitárias da pandemia do novo coronavírus.
O encontro virtual teve a intermediação do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), com a Frente Parlamentar Católica, em conjunto com o presidente da bancada católica, deputado Francisco Jr. (PSD-GO). O deputado Eros Biondini (Pros-MG), também participou ativamente da reunião, mencionando o empresariado católico.
Com preocupações próximas entre cada um, o padre e cantor Reginaldo Manzotti ressaltou sobre o papel da "Associação Evangelizar é Preciso" para auxiliar o governo: “Nós somos uma potência, queremos estar nos lares e ajudar a construir esse Brasil. E, mais do que nunca, o senhor sabe o peso que isso tem, quando se tem uma mídia negativa. E nós queremos estar juntos”. João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida, por sua vez, cobrou mais participação e entrevistas políticas nas emissoras.
O grupo presente solicitou também ao presidente que tivesse acesso ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, à Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e, principalmente, à Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom). O apoio das emissoras católicas visa, potencialmente, o recente aporte de R$ 83,9 milhões que a Secom recebeu do Governo para investir em propaganda.
Segundo o levantamento do Estadão, as emissoras ligadas a grupos religiosos receberam R$ 4,6 milhões em pagamentos da Secom para veiculação de comerciais institucionais e de utilidade pública. Em 2020, até o momento foram repassados R$ 160 mil para TVs católicas e R$ 179 mil para TVs evangélicas.
Devido à crise atual, várias emissoras, grandes e pequenas, religiosas e laicas, estão endividadas e demitindo funcionários. Com a proibição de cultos, missas e gravações com grande público presente, as emissoras enxergam a propaganda política como uma saída. Entretanto, o público nichado e a baixa qualidade de programação são empecilhos para um retorno monetário considerável para ambas as partes.
O Governo, por meio da Secom, já vem há algum tempo sendo investigado por dar preferências para determinadas emissoras e é alvo de críticas e análises mais aprofundadas sobre um possível repasse indevido de verbas pelo secretário de Comunicação, Fabio Wajngarten, para beneficiar determinados meios de comunicação.