Discurso de Bolsonaro na ONU culpa 'caboclo e índio' por queimadas
O presidente Jair Bolsonaro foi o primeiro chefe de estado a discursar na Assembleia Geral da ONU 2020, que teve início às 10h desta terça-feira (22), em uma fala de pouco menos de 15 minutos que percorreu as principais acusações contra seu governo, em uma tonalidade geral de defesa e tentativa de elevar o status de relevância do país por conta da agropecuária.
Um dos momentos mais aguardados era a justificativa que Bolsonaro daria para os crimes ambientais brasileiros que entraram em ampla discussão internacional após o surgimento da campanha "DefundBolsonaro", com propósito de apresentar provas de que o presidente age contra a preservação da Amazônia. A estratégia do discurso seguiu o que já se esperava: elevar o agronegócio e afastar qualquer culpa em relação ao meio ambiente.
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"O Brasil desponta como o maior produtor mundial de alimentos e, por isso, há tanto interesse em propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente. Estamos abertos para o mundo naquilo que melhor temos para oferecer: nossos produtos do campo. Nunca exportamos tanto. O mundo cada vez mais precisa do Brasil para se alimentar. Nossa floresta é úmida, e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente nos mesmos lugares, no entorno leste das florestas, onde o caboclos e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas", disse Bolsonaro, afirmando que mantém uma política de tolerância zero em relação aos crimes ambientais.
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Mais para frente, o presidente citou o Pantanal e também afastou gravidades. "O nosso Pantanal, com área maior que muitos países europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos problemas. As grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição", explicou Bolsonaro, pouco antes de apresentar o programa de combate ao lixo no mar como grande triunfo dos esforços ambientais de seu governo, e, novamente, excluindo as próprias responsabilidades ao justificar os incêndios no Pantanal apenas com os dados de queimadas causadas pelas altas temperaturas.
O discurso do presidente da república também citou a necessidade de "combate à cristofobia" e ainda encontrou tempo para elogiar a administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que logo depois iniciou o seu discurso mencionando o coronavírus como "vírus chinês".