Depoimento de Sérgio Moro é divulgado e revela interesses políticos de Bolsonaro
Conforme solicitado pelo ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro, por seus advogados, o seu depoimento foi divulgado à público. O depoimento de Sérgio Moro em que acusa o presidente Jair Bolsonaro de interferir politicamente na Polícia Federal foi realizado no último sábado (2). Preocupado com a divulgação parcial do que disse, Moro solicitou que a Polícia Federal divulgasse integralmente seu depoimento para não gerar interpretações erradas.
O pedido de Moro ocorreu logo após Augusto Aras, da Procuradoria Geral da República, solicitar ao STF que ouvisse os citados pelo ex-ministro, que incluem atuais ministros e outros políticos. O depoimento de Moro foi somado a várias mensagens entre ele e o presidente que estavam em seu celular.
Em seu depoimento, Moro diz diversas vezes que não acusou o presidente de nenhum crime, que esta acusação cabe aos investigadores. Apesar disso, o ex-juiz relata que o interesse de Bolsonaro pela superintendência do Rio de Janeiro e a indicação de Ramagem para a Polícia Federal já eram anseios antigos do presidente e verbalizados à Moro.
Segundo Sérgio Moro, Bolsonaro teria dito sobre a superintendência do Rio de Janeiro: 'Você tem 27 superintendências, eu quero apenas uma'. A mudança da superintendência do Rio foi o primeiro ato do novo Diretor-Geral da PF, Rolando Souza, que assumiu o cargo ontem (4) a portas fechadas. No documento divulgado pela PF consta:
QUE em agosto de 2019 houve uma solicitação por parte do Exmo. Presidente da República de substituição do Superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, RICARDO SAAD;
QUE essa solicitação se deu de forma verbal, no Palácio do Planalto;
QUE o Presidente, contrariado, deu nova declaração pública afirmando que era ele quem mandava e que o novo Superintendente seria ALEXANDRE SARAIVA;
QUE o Diretor da Polícia Federal ameaçou se demitir e que o Declarante conseguiu demover o Presidente;
[...]
QUE tem presente que ALEXANDRE SARAIVA é um bom profissional, no entanto não era o nome escolhido pela Polícia Federal,
QUE o presidente já havia indicado ao Declarante a intenção de indicar ALEXANDRE SARAIVA, mas que da sua parte entendia que a escolha deveria ser da Polícia Federal;
QUE mesmo antes, mas, principalmente, a partir dessa época o Presidente passou a insistir na substituição do Diretor da PF, MAURÍCIO VALEIXO;
Sobre a substituição de Valeixo por Ramagem, Moro cita que teve uma reunião no dia 23 de abril com o presidente e que foi informado que o nomeado seria “de confiança do Presidente”. Segundo o depoimento, "O Declarante [Moro] informou ao Presidente que isso representaria uma interferência política na PF, com o abalo da credibilidade do governo, isso tudo, durante uma pandemia".