Funcionários do Banco Mundial pedem suspensão da indicação de Weintraub
A Associação dos Funcionários do Banco Mundial entregou ao presidente e vice-presidente do Comitê de Ética do Conselho da instituição uma carta em que criticam a indicação de Abraham Weintraub para o cargo de diretor-executivo.
Abraham Weintraub é ex-ministro da Educação do governo do presidente Jair Bolsonaro, e deixou o cargo na última quinta-feira (18) com a justificativa de que estava sofrendo ameaças e que, com o aval o presidente, iria exercer a função no banco nos Estados Unidos. Sua saída e exoneração foram conturbadas e passam por um processo de investigação com possibilidade de deportação.
Na carta, os funcionários da instituição relatam que a indicação não foi bem vista no Banco Mundial, onde uma cópia da carta circulou entre toda a staff do banco. Em determinados trechos, os autores pedem a suspensão da indicação, até que as acusações contra o ex-ministro sejam apuradas e que Weintraub reveja suas declarações polêmicas, como a de não aceitar o termo "povos indígenas" e de acusar a China pela pandemia do novo coronavírus.
A pressão dos funcionários se soma a da carta enviada na semana passada com cerca de 300 assinaturas de entidades da sociedade civil brasileira às embaixadas dos países que fazem parte do grupo do Brasil no Banco Mundial, apelando para que o ex-ministro não seja eleito para o cargo por sua gestão no MEC ter sido "destrutiva e venenosa".
Todavia, Weintraub não deve ter dificuldades para conseguir a vaga em outubro, já que o ex-diretor-executivo, Fábio Kanczuk, deixou a função para ser diretor de Política Econômica do Banco Central, deixando o mandato aberto para o ex-ministro.
Confira a carta na íntegra:
Carta Aberta ao Conselho sobre o novo diretor-executivo brasileiro 24 de junho de 2020 A carta a seguir foi enviada ao presidente e vice-presidente do Comitê de Ética do Conselho. Refere-se à recente nomeação pelo Brasil do Sr. Abraham Weintraub, ex-ministro da Educação, como diretor-executivo interino da EDS15 (Brasil, Colômbia, Filipinas, República Dominicana, Trinidad e Tobago, Equador e Suriname).
Caros Sr. Schoenleitner e Sra. Shuaibu,
A Associação dos Funcionários do Banco Mundial deseja chamar à atenção do Comitê de Ética da Diretoria o registro do Sr. Abraham Weintraub, que deve começar a trabalhar no Banco Mundial na qualidade de diretor-executivo interino da EDS15.
Muitos funcionários ficaram profundamente perturbados ao saber o seguinte:
De acordo com várias fontes, Weintraub publicou um tuíte de acusação racial que zomba do sotaque chinês, culpando a China pelo novo coronavírus e acusando-os de "dominação mundial", levando o Supremo Tribunal Federal a abrir uma investigação sobre acusações de racismo (crime no Brasil). Weintraub sugeriu que os juízes da Suprema Corte fossem presos.
Weintraub deu declarações públicas contra a proteção dos direitos das minorias e a promoção da igualdade racial (seu último ato como ministro da Educação foi revogar diretrizes para promover cotas para afrodescendentes e povos indígenas no ensino superior). Ele já disse odiar o termo "povos indígenas".
Embora sua indicação tenha sido condenada por vários países clientes, a Associação dos Funcionários entende que a escolha deste diretor-executivo é do Brasil e somente do Brasil. Dito isto, podemos e devemos garantir que o comportamento e as ações de nossos membros efetivos modelem o Código de Conduta para Funcionários do Conselho —exigindo os mais altos padrões de integridade e ética em sua conduta pessoal e profissional— e alinhados com nossas políticas operacionais, como nossa política de povos indígenas.
Portanto, solicitamos formalmente ao Comitê de Ética que reveja os fatos subjacentes às múltiplas alegações, com vistas a (a) suspender sua indicação até que essas alegações possam ser revisadas e (b) garantir que o Sr. Weintraub seja avisado de que o tipo de comportamento pelo qual ele é acusado é totalmente inaceitável nesta instituição.
O Grupo Banco Mundial acaba de assumir uma posição moral clara para eliminar o racismo em nossa instituição. Isso significa um compromisso de todos os funcionários e membros do Conselho de expor o racismo onde quer que o vejamos. Confiamos que o Comitê de Ética do Conselho compartilhe essa visão e faremos tudo ao seu alcance para aplicá-la.
Atenciosamente,
Assembleia Delegada da Associação de Funcionários do Banco Mundial.